Rodolfo,
Quando cheguei, não só a luz, mas também o
som era distinto. O som dos carros, esse é o mesmo, do café fervendo, dos
talheres batendo sobre o prato, dos passos na calçada. O que encontrei de diferente
foi o som das pessoas falando entre si em diversos lugares, em diversas situações.
Não era exatamente a voz ou a língua estrangeira que me deslocavam do silêncio
ruidoso a que eu estava acostumado, mas era o som das palavras que eu não
conseguia roubar de uma conversa alheia na rua, no metrô, na fila da padaria. Não
conseguia mesmo se quisesse, como muitas vezes queria, mas não por ser baixo o volume, não
por serem desconhecidas as palavras, mas pela modulação da voz ao cochichar, ao
falar para um outro que não eu, que meus ouvidos não reconheciam como fala, mas como um barulho que me
cercava o tempo todo em lugares públicos.
Outro dia, notei sem querer, como acontece
com a maioria as coisas importantes, que esse som desapareceu. Ele foi substituído
pelo som das pessoas que falam e que eu entendo; um som das palavras como os demais,
apenas em outra língua. As pessoas ao meu redor continuam cochichando como
antes, mas aquele ruído de outrora deu lugar a palavras e sentidos que posso
identificar. A língua me aprisionou enquanto eu caminhava na calçada e não pude
deixar de ouvir o que um casal conversava no bar ao lado. Não posso mais andar por
aí livre e alheio. Entendo os cochichos e isso me permite roubá-los disfarçadamente
de vez em quando.
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