10 de maio de 2010

Transcrições Noturnas #01

"Daria Mikhailovna estendeu a Rudin um volume em francês.
"Rudin tomou-o, folheou algumas páginas, e depois, tendo-o pousado na mesa, declarou que não conhecia essa obra de Tocqueville, mas frequentemente meditara os problemas estudados na brochura. A conversação retomou seu curso. A princípio, Rudin pareceu hesitar em dizer todo o seu pensamento, exprimindo-se com dificuldade; depois, animou-se, fez-se eloquente. Não havia transcorrido um quarto de hora, e só a sua voz ressoava no salão; rodeavam-no todos, exceção feita de Pigassov, que se manteve obstinadamente afastado, a um canto, perto da chaminé.
"Rudin falava com calor, inteligência e correção; manifestava grande erudição. Ninguém, ao vê-lo, esperaria encontrar nele faculdades extraordinárias... Rudin andava mal vestido e ninguém falava dele! A todos parecia estranho e incompreensível que um homem de tal valor aparecesse tão de repente ali no campo! Isso ainda fez com que surpreendesse mais e encantasse todo mundo, a começar por Daria Mikhailovna... Esta se orgulhava de haver descoberto Rudin e já pensava nos meios de fazê-lo brilhar na sociedade. Apesar de sua idade, havia algo de pueril nesta apreciação tão rápida.
"Alexandra Pavlovna, confessemo-lo, mal compreendeu o que Rudin dizia, mas estava encantada de ouvi-lo; Panedalevski fitava Daria Mikhailovna e tinha ciúmes de seu novo amigo; Pigassov pensava: 'Por quinhentos rublos, eu encontraria um rouxinol melhor que esse!...' Bassistov e Natália eram os que estavam mais maravilhados. O professor por várias vezes escapou de perder a respiração escutando Rudin; estava de boca aberta, olhos arregalados... e apurava o ouvido como nunca o apurara na vida! Quanto a Natália, seu rosto se ruborizara levemente, e seu olhar, fito em Rudin, despedia vivos clarões que logo se extinguiam.
"- Tem uns olhos adminráveis esse homem - murmurou Volinetsev, sentado aos pés dela.
"- Sim, são bonitos.
"- Infelizmente, tem as mãos um tanto grosseiras e vermelhas.
"Natália não respondeu".



In Rudin. Ivan S. Turgueniev.