23 de novembro de 2011

Transcrições noturnas #05 - Arte da guerra

"Para terminar, invocaremos ainda um testemunho em favor da conversão da quantidade em qualidade, e esse testemunho será Napoleão, que descreve como se segue o combate da cavalaria francesa - mal montada, mas disciplinada - com os mamelucos, incontestavelmente a melhor cavalaria de seu tempo para o combate individual - mas mal disciplinados: 'Dois mamelucos eram, em absoluto, superiores a três franceses; cem mamelucos e cem franceses se equivaliam; trezentos franceses superavam comumente trezentos mamelucos; mil franceses derrotavam sempre mil e quinhentos mamelucos'". Engels apud Lukács em Prolegômenos para uma ontologia do ser social.

2 de novembro de 2011

Transcrições noturnas #04


"A crise desfigurava também a fisionomia cultural do país. Tinham ficado para trás os tempos em que tiragens de 100 mil cópias de clássicos como Dom Quixote ou Cem Anos de Solidão sumiam das livrarias em poucos dias. A média anual de livros publicados, que era de quase 45 milhões de exemplares em 1990, caíra para menos de 1 milhão. A impossibilidade importar papel-jornal suspendeu a circulação da maioria das publicações. Revistas tradicionais como a Alma Mater, editada desde 1922 pela Universidade de Cuba, o semanário Bohemia, fundado em 1908, a Casa, mensário cultural da Casa de las Américas, e até a Verde Olivo, veículo oficial das Forças Armadas Revolucionárias, tiveram que fechar suas portas. O diário Granma, órgão oficial do Partido Comunista e principal jornal do país, que na época das vacas gordas chegara a circular com mais de sessenta páginas, em formato standard, foi reduzido a um tabloide de seis páginas. O rigoroso racionamento de energia submetia a população a um calvário adicional. Um duro rodízio imposto ao país obrigava todos a passar dezesseis horas por dia sem eletricidade. Os cortes geraram picos de utilização de telefones entre as oito e meia e nove horas da noite, provocando congestionamentos na precária rede local. Ao investigar o fenômeno, as autoridades descobriram que naquele horário era exibida na televisão uma verdadeira febre entre os cubanos, as telenovelas brasileiras. Quem tinha luz em casa à noite fazia uma ligação telefônica para algum amigo submetido ao apagão e deixava o fone colado ao alto-falante do televisor para que o destinatário da chamada pudesse pelo menos ouvir o capítulo do dia".


MORAIS, Fernando.
Os Últimos Soldados da Guerra Fria. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.