19 de abril de 2010

O 18 de abril de Joel Santana

Marx observa em uma de suas obras que os homens constroem sua própria história, mas não a fazem segundo sua livre vontade, e sim sob as circunstâncias legadas e transmitidas pelo passado. E acrescenta, referindo-se a momentos de grande convulsão social: “A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” Ontem, o Maracanã foi palco de um desses episódios históricos, mas os fantasmas conjurados não foram outros senão os heróis do passado botafoguense. E se foram pesadelo para alguém, certamente não o foram do lado de cá da arquibancada. Pelo contrário.

Loco Abreu por Maurício, Herrera por Paulinho Criciúma, Jefferson por Ricardo Cruz, o 21 de junho de 1989 pelo 18 de abril de 2010. Vinte e um anos depois daqueles vinte e um anos, a história se repetiu, mas não como farsa. Ao final, o concreto surdo que sustenta o palácio do futebol ecoou mais uma vez o grito de desagravo. Pois quando o Botafogo é campeão, nunca o é sozinho. Quando o baile é em preto e branco, a festa é de toda a cidade. Como um novo tempo de esperança que se inicia, é chegado o momento de reparação das injustiças: isso é o Botafogo campeão.

O grande mentor dessa história estava fora das quatro linhas. Ele não empurrou a bola para o fundo da rede, mas escalou a mística alvinegra como titular e, certamente, foi ela quem fez o time campeão. Difícil imaginar outro personagem para o lugar de Joel Santana nesse momento. Onde havia fraquezas, Joel criou virtudes. À limitação técnica, respondeu com espírito de luta. Se o Botafogo tinha apenas uma jogada, Joel fez dela uma sua arma mortal. Se o time carregava o peso de três anos de derrotas seguidas, isso foi transformado em motivação. Joel colocou silenciosamente entre aqueles onze homens exatamente o que o Botafogo precisava. Ele os untou para realizar a história. Os jogadores, entretanto, não fizeram essa história conscientemente. Mas mesmo sem saber, construíram-na em conformidade com a tradição de um passado mítico e glorioso. Talvez por isso tenham sido tão competentes para inaugurar um novo capítulo na história alvinegra. Maracanã, 2010, 2x1, 21 anos depois de 21 anos. Joel fez desses homens Botafogo. Eles souberam ser Botafogo. Um dia, no futuro, serão eles os heróis evocados.

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