
Já era noite quando cheguei à Berlim e o que primeiro me chamou a atenção foi o cheiro de uma estação de metrô. Tradicional perfume de cidade, mas, como acontece em todas elas, definido por uma fragrância particular. Andando por Kreuzberg, eu buscava o endereço onde me hospedaria e não reparei que cruzava o traçado do antigo Muro. Apenas no dia seguinte, sob a luz do sol, ao atravessar despretensiosamente uma rua do bairro, percebi a inscrição no chão: "Berliner Mauer 1961-1989".
Ao contrário do que se poderia esperar, o encontro dessa marcação não me causou grande impacto. Senti que aquele fora apenas mais um dos muitos muros que, depois de construídos, foram derrubados num lugar com milênios de civilização. Curiosa sensação de tempo histórico que me fez pensar como estamos, pela primeira vez, tão perto e, como sempre, tão longe de uma verdadeira comunidade humana.